TÍTULO
A formação e mediação de redes sociais como estratégia para o incremento de capital social visando o desenvolvimento local.
PROBLEMA DA PESQUISA
Durante os últimos 12 anos, como parte de meu trabalho como consultor e gestor de projetos sociais, tenho despendido esforços no sentido de criar ambientes de relacionamento social como base para o desenvolvimento de projetos que promovam comunidades e capazes de contribuir para elevar o nível do protagonismo dos atores sociais atuantes nessas comunidades.
O despertar inicial para a questão ocorreu quando eu trabalhava com um projeto social que executava cursos profissionalizantes para pessoas economicamente desfavorecidas. O modelo de atuação era muito simples e consistia basicamente no seguinte: alguns cursos profissionalizantes eram selecionados, professores eram contratados e por meio de uma parceria com uma organização não governamental esses cursos eram oferecidos gratuitamente à população. Depois de 6 meses de atuação o projeto era levado para outra comunidade.
Não obstante tratar-se de produtos educacionais que objetivavam possibilitar às pessoas gerar renda para si e suas famílias, tratava-se de um modelo de atuação baseado em oferta e não em demanda ou necessidade diagnosticada, muito semelhante a projetos sociais de distribuição de alimentos ou roupas.
Essa atuação, sob este modelo, gerou a constatação de alguns problemas:
· Em muitos casos os candidatos queriam participar porque os cursos eram gratuitos e não porque se identificavam com o curso e seu conteúdo.
· Alguns participantes, quando o projeto voltava ao mesmo local depois de alguns anos, queriam fazer os mesmos cursos. Esta constatação, propiciou o questionamento de que o curso que ele havia feito não tinha surtido resultado para sua profissionalização ou ajudado a gerar renda (ou seja sua situação social no mínimo continuava na mesma)..
· A atuação contribuía para a insustentabilidade das organizações sociais que sediavam os cursos de duas maneiras:
a) Uma vez que a instituição executante dos cursos arcava com os salários e encargos sociais dos profissionais e material didático, mas não disponibilizava recursos financeiros para outras despesas decorrentes da realização da atividade. Assim, depois de alguns meses de curso, as contas de água, energia elétrica e manutenção geral (por exemplo) sofriam grande aumento e essas organizações não conseguiam arcar com esses custos.
b) Como o projeto era itinerante, gerava um “vazio” no local, uma vez que a organização social não conseguia manter o mesmo nível de atividades. Desta forma, a população local identificava que a organização havia acabado com os cursos, portanto não era útil para a comunidade (seu líder acabava sendo onerado com os custos políticos do fim do projeto).
Com esses problemas e questionamentos, buscou-se uma nova forma de atuar. A partir de alguns encontros com líderes de organizações da região onde os cursos ocorriam, percebemos algumas questões:
a) Apesar de estarem muito próximos fisicamente, cada um pouco ou nada conheciam a respeito dos demais;
b) Como conseqüência, não sabiam que outros projetos estavam sendo executados;
c) Portanto, não conseguiam se articular no sentido de maximizar (os já parcos) recursos que administravam;
d) Na maioria dos casos, estavam fundamentalmente preocupados com o dia-a-dia de suas organizações e não olhavam a realidade de forma mais ampla;
e) A grande maioria era composta de pessoas de boa vontade, honestas e idealistas, mas com deficiências na gestão de suas organizações;
f) Ressaltavam, de forma predominante, os passivos de suas comunidades e não conseguiam olhar os ativos existentes;
g) Viam-se como vítimas, repetindo constantemente a “ladainha” de que as autoridades públicas e empresários não os ajudava;
h) Na gestão de suas organizações assumiam comportamento assistencialista, tanto no trato com as pessoas que atendiam, como na relação com poder público
Esses encontros iniciais com lideranças comunitárias, mostraram que havia espaço para um trabalho social mais consistente e que seria muito mais útil ajudar esses líderes comunitários a se organizarem, fortalecendo suas atuações, principalmente do ponto de vista político, e assim, estariam melhor preparados para desenvolver projetos sociais que levassem à transformação social e não apenas a manutenção das misérias.
Foi nesse contexto que desenvolvemos metodologia para formar redes sociais que atuassem calcados em alguns princípios:
a) Horizontalidade: não deveria existir hierarquia;
b) Democracia: entendida como sendo a participação plena e não democracia assembleista e centrada no voto (ou vontade da maioria);
c) Diversidade: participação ampla tanto em termos de tipos de projeto executados (jovens, crianças, portadores de deficiência e etc), como em termos ideológicos (direita, esquerda, etc), origem da organização ou pessoa (ONG, governo, empresa).
Desde o início da formação de redes sociais, entendemos ser de fundamental importância a existência de alguém que devesse exercer o papel de mediação no grupo, com as tarefas de facilitar o andamento dos trabalhos, animar o grupo, ajudar na resolução de conflitos e contribuir para garantir os princípios de atuação da rede (mencionados acima).
Sempre houve muita receptividade por parte das comunidades e lideranças para a proposta de formação de redes. Fatores estruturais da sociedade brasileira, tais como cultura assistencialista e paternalista, cultura piramidal, ênfase nos passivos e reduzida vivencia democrática, sempre se apresentaram como desafios a serem vencidos. Somente em algumas poucas comunidades, dominadas por líderes altamente centralizadores, não houve possibilidade de se criar redes ou o processo se fez de forma muito lenta e com muitas travas.
No momento de redação deste pré-projeto, são 12 anos de experiência no fomento de redes sociais, sendo que seria possível enumerar centenas de resultados concretos e quantitativos, no entanto, neste momento, ressalto apenas que nessa atuação, sempre percebemos por parte dos participantes um forte sentimento de ter saído do isolamento e de fortalecimento em suas potencialidades.
A partir dessa experiência (ainda em curso), por meio de estudos, debates e leituras, pudemos entender que cada vez que ajudávamos a formar redes sociais, estávamos fortalecendo os vínculos sociais entre pessoas de fora do círculo familiar, portanto, paulatinamente estávamos contribuindo para formar capital social nas comunidades.
Partindo-se dessa constatação, o foco principal deste pré-projeto de pesquisa é determinar o quanto a formação de uma rede de fato contribui para a formação de capital social e o impacto em processos de desenvolvimento local.
Passa por essa investigação analisar os fatores envolvidos na formação de redes sociais com análise privilegiada para a mediação do grupo
JUSTIFICATIVA
Todos os que habitam em nosso país e que estão minimamente preocupados com nossa situação social, sabem que ela não é das melhores e que não é de hoje. Pode-se discordar de suas causas e da forma como atacar suas conseqüências, o que é muito pertinente numa democracia, mas dificilmente pode-se se discordar que as soluções podem ou devem ser implementadas pelo conjunto da sociedade. Ou seja, se nós mesmos não resolvermos nossos problemas, outros não farão por nós.
Apenas como ilustração inicial presente na composição desse cenário, podemos elencar alguns dados e análises.
Segundo do International Monetary Fund (World Economic Outlook Database, April 2009), com dados de Junho de 2008, o Brasil é 10ª maior economia do mundo, considerando-se o PIB - Produto Interno Bruto. Trata-se de uma relevante posição entre 184 países. Seria muito mais relevante se tal índice tivesse coerência com outros normalmente utilizados para aferir a posição dos países em índices correlatos. A incoerência começa a aparecer quando analisamos o ranking do PIB pecapita. O Brasil, neste índice, aparece na 65ª posição. Entre as 10 maiores economias do mundo, incluindo o Brasil e excluindo a china, nenhuma delas tem posição tão desigual nessa comparação. Por exemplo, a Espanha, 9ª. Colocada no PIB está em 21º lugar no PIB Percapita.
Outro índice que ajuda nessa comparação é o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano. Nesse ranking, o Brasil está em 70º lugar, num total de 179 países, conforme dados de 2006 do Human development índex publicado pelo UNPD - United Nations Programm Development. Para exemplificar, ao se comparar o PIB das 10 maiores economias do mundo, com seu respectivo IDH, excluindo-se a China, notamos novamente a posição da Espanha: 9ª colocada no PIB e 16ª colocada no IDH. Ou seja, a economia espanhola é 1,09 vezes maior que a do Brasil e seu IDH é 5,3 vezes melhor que do Brasil.
Considerando-se apenas esses poucos índices, claramente nos deparamos diante da seguinte constatação: somos um país com crescimento e não com desenvolvimento.
Este é um ponto central neste projeto de pesquisa. Entendemos desenvolvimento como um todo e crescimento apenas como fatores de ordem meramente econômica. Em minha opinião, um país só pode ser considerado desenvolvido, quando se constata bons índices em termos de crescimento econômico, desenvolvimento humano (educação, saúde, segurança, etc) e social, com respeito ao meio ambiente. Ou seja, quando isso ocorre, podemos falar em desenvolvimento sustentável. Segundo Franco (2001), a própria palavra desenvolvimento não precisaria vir acompanhada de nenhum outro adjetivo, pois desenvolvimento está sempre ligado a sociedades humanas e geograficamente localizadas.
Apontado o entendimento sobre o que é desenvolvimento, precisamos apontar que fatores levam ao desenvolvimento. Assim, temos os chamados fatores econômicos e extra-economicos. Entre os fatores econômicos, claramente se situam a capacidade de investimento (capital financeiro), de produção e de consumo. Segundo Franco (2002) os fatores extra-econômicos do desenvolvimento, somente recentemente começaram a ser percebidos e estudados como importantes. Em ordem crescente de reconhecimento:
· Capital Natural: são os insumos presentes num território que podem ser utilizados para alavancar o desenvolvimento. Por exemplo: água, ar, recursos minerais, biosferas, matas, etc.
· Capital humano: tudo o que está relacionado ao ser humano em si mesmo, entre eles, fatores como educação, saúde, habitação, segurança, alimentação, etc.
· Capital Social: relacionado ao que acontece entre as pessoas, seu grau de confiança recíproca, capacidade de dirimir conflitos, estabelecer regras e cooperar.
Entre os fatores extra-economicos, citados acima, o capital social é o que nos interessa mais de perto. Consideramos que ele possa ser entendido como fator “ambiental” do desenvolvimento, ou seja, fator que molda o ambiente (humano, social, econômico e principalmente político) onde se dá o desenvolvimento. Segundo Fukuyama (1996) o nível de capital social determina a capacidade de auto-organização de uma sociedade, portanto ele (capital social) é base tanto para a economia quanto para a democracia.
Assim, não basta que tenhamos abundancia de capital natural e altos índices de capital humano, se não existe “estoque” suficiente de capital social que faça com que esses recursos possam ser bem utilizados. Ou seja, aventando uma conotação para capital social, podemos dizer que ele é a vontade política de se fazer algo, e sabemos que sem vontade política por parte dos elementos constituintes de uma sociedade nada acontece. Em outras palavras, para algo acontecer é primeiro que exista a vontade (desejo ou a vontade ou decisão política).
Nessa seqüência, sabemos que capital social não pode ser produzido simplesmente como se constrói fábricas ou como se aloca recursos financeiros para uma empreitada, ou como se constrói hospitais e centros de saúde. O capital social é produzido culturalmente, conforme salientou Fukuyama (1996).
Sergio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil, ao analisar a formação cultural do povo brasileiro e seus impactos na vida social, política e econômica da nação, afirma que “as teorias negadoras do livre-arbítrio foram sempre encaradas com desconfiança e antipatia pelos portugueses e espanhóis” e atribui a essa mentalidade como sendo um fator impeditivo ao “espírito de organização espontânea entre eles”, concluindo que “as doutrinas que apregoam o livre-arbítrio e a responsabilidade pessoal são tudo, menos favorecedoras da associação entre os homens” (Holanda, Sergio Buarque, 1995)
Essa é nossa herança cultura enquanto povo e nação. Assim, encontramo-nos diante do seguinte dilema: Como não temos a herança cultural que nos habilite na atualidade a “estoques” razoáveis de capital social, o que fazer diante desse quadro, uma vez que não é possível mudar o passado e a forma como o país foi colonizado e se formou culturalmente?
Nossa resposta, ainda que superficial, porem suficiente no momento para os fins desse pré-projeto, é criar ambientes onde se possa “treinar” o estabelecimento de vínculos de confiança, parcerias e colaboração social mediante técnicas adequadas de mediação e articulação.
Estamos agora entrado em outro ponto chave desse pré-projeto, ou seja, estamos falando do fomento de redes sociais. O termo, rede social, pelo uso generalizado que tem sofrido, encontra-se desgastado. Não estamos aludindo as redes sociais formadas em ambientes virtuais destinadas a troca de informações entre as pessoas (na maioria dos casos de forma superficial e supérflua). Muito menos estamos usando o termo redes para nos referenciar a um conjunto de elementos hierarquicamente estabelecidos (rede de agencias de um banco, rede de atendimento hospitalar de uma cidade e etc).
Ao falarmos em redes, não estamos também nos referindo um organismo com vontade própria, ou formado pela vontade da maioria das pessoas componentes, como no caso de uma assembléia. Nossa concepção é de rede enquanto conjunto de relações, e esta, por sua vez é fluída e dinâmica.
Não estamos falando de outra coisa senão do que deveria ser a sociedade sem as amarras, filtros, censuras, clusrters e hierarquias que foram criadas e introduzidas na sociedade no seu processo histórico de formação.
Nossa hipótese, é que podemos criar de forma deliberada grupos onde os canais de comunicação possam ser desobstruídos e onde as soluções comuns possam aparecer e onde o diálogo possa imperar, assim, ajudando a estabelecer novos padrões culturais de comportamento e relacionamento entre os membros de uma sociedade. Isso não é outra coisa se não criar ambiente favorável para confiança e sociabilidade onde o capital social possa ser “cultivado”.
No cerne desse movimento, de criar ambientes favoráveis para o diálogo e a cooperação, o papel da mediação de grupos é central. A mediação não entendida como liderança condutora, mas como técnica capaz de liberar possibilidades, entendimentos e superação de conflitos, dentro de uma visão sistêmica, própria para nosso complexo mundo atual.
De uma forma ampla, estabelecer relações causais entre desenvolvimento e capital social, redes sociais e mediação de grupos e entre esse dois conjuntos, é contribuir para melhor entendimento desses fenômenos.
OBJETIVOS
A formação e mediação de redes sociais como estratégia para o incremento de capital social visando o desenvolvimento local.
PROBLEMA DA PESQUISA
Durante os últimos 12 anos, como parte de meu trabalho como consultor e gestor de projetos sociais, tenho despendido esforços no sentido de criar ambientes de relacionamento social como base para o desenvolvimento de projetos que promovam comunidades e capazes de contribuir para elevar o nível do protagonismo dos atores sociais atuantes nessas comunidades.
O despertar inicial para a questão ocorreu quando eu trabalhava com um projeto social que executava cursos profissionalizantes para pessoas economicamente desfavorecidas. O modelo de atuação era muito simples e consistia basicamente no seguinte: alguns cursos profissionalizantes eram selecionados, professores eram contratados e por meio de uma parceria com uma organização não governamental esses cursos eram oferecidos gratuitamente à população. Depois de 6 meses de atuação o projeto era levado para outra comunidade.
Não obstante tratar-se de produtos educacionais que objetivavam possibilitar às pessoas gerar renda para si e suas famílias, tratava-se de um modelo de atuação baseado em oferta e não em demanda ou necessidade diagnosticada, muito semelhante a projetos sociais de distribuição de alimentos ou roupas.
Essa atuação, sob este modelo, gerou a constatação de alguns problemas:
· Em muitos casos os candidatos queriam participar porque os cursos eram gratuitos e não porque se identificavam com o curso e seu conteúdo.
· Alguns participantes, quando o projeto voltava ao mesmo local depois de alguns anos, queriam fazer os mesmos cursos. Esta constatação, propiciou o questionamento de que o curso que ele havia feito não tinha surtido resultado para sua profissionalização ou ajudado a gerar renda (ou seja sua situação social no mínimo continuava na mesma)..
· A atuação contribuía para a insustentabilidade das organizações sociais que sediavam os cursos de duas maneiras:
a) Uma vez que a instituição executante dos cursos arcava com os salários e encargos sociais dos profissionais e material didático, mas não disponibilizava recursos financeiros para outras despesas decorrentes da realização da atividade. Assim, depois de alguns meses de curso, as contas de água, energia elétrica e manutenção geral (por exemplo) sofriam grande aumento e essas organizações não conseguiam arcar com esses custos.
b) Como o projeto era itinerante, gerava um “vazio” no local, uma vez que a organização social não conseguia manter o mesmo nível de atividades. Desta forma, a população local identificava que a organização havia acabado com os cursos, portanto não era útil para a comunidade (seu líder acabava sendo onerado com os custos políticos do fim do projeto).
Com esses problemas e questionamentos, buscou-se uma nova forma de atuar. A partir de alguns encontros com líderes de organizações da região onde os cursos ocorriam, percebemos algumas questões:
a) Apesar de estarem muito próximos fisicamente, cada um pouco ou nada conheciam a respeito dos demais;
b) Como conseqüência, não sabiam que outros projetos estavam sendo executados;
c) Portanto, não conseguiam se articular no sentido de maximizar (os já parcos) recursos que administravam;
d) Na maioria dos casos, estavam fundamentalmente preocupados com o dia-a-dia de suas organizações e não olhavam a realidade de forma mais ampla;
e) A grande maioria era composta de pessoas de boa vontade, honestas e idealistas, mas com deficiências na gestão de suas organizações;
f) Ressaltavam, de forma predominante, os passivos de suas comunidades e não conseguiam olhar os ativos existentes;
g) Viam-se como vítimas, repetindo constantemente a “ladainha” de que as autoridades públicas e empresários não os ajudava;
h) Na gestão de suas organizações assumiam comportamento assistencialista, tanto no trato com as pessoas que atendiam, como na relação com poder público
Esses encontros iniciais com lideranças comunitárias, mostraram que havia espaço para um trabalho social mais consistente e que seria muito mais útil ajudar esses líderes comunitários a se organizarem, fortalecendo suas atuações, principalmente do ponto de vista político, e assim, estariam melhor preparados para desenvolver projetos sociais que levassem à transformação social e não apenas a manutenção das misérias.
Foi nesse contexto que desenvolvemos metodologia para formar redes sociais que atuassem calcados em alguns princípios:
a) Horizontalidade: não deveria existir hierarquia;
b) Democracia: entendida como sendo a participação plena e não democracia assembleista e centrada no voto (ou vontade da maioria);
c) Diversidade: participação ampla tanto em termos de tipos de projeto executados (jovens, crianças, portadores de deficiência e etc), como em termos ideológicos (direita, esquerda, etc), origem da organização ou pessoa (ONG, governo, empresa).
Desde o início da formação de redes sociais, entendemos ser de fundamental importância a existência de alguém que devesse exercer o papel de mediação no grupo, com as tarefas de facilitar o andamento dos trabalhos, animar o grupo, ajudar na resolução de conflitos e contribuir para garantir os princípios de atuação da rede (mencionados acima).
Sempre houve muita receptividade por parte das comunidades e lideranças para a proposta de formação de redes. Fatores estruturais da sociedade brasileira, tais como cultura assistencialista e paternalista, cultura piramidal, ênfase nos passivos e reduzida vivencia democrática, sempre se apresentaram como desafios a serem vencidos. Somente em algumas poucas comunidades, dominadas por líderes altamente centralizadores, não houve possibilidade de se criar redes ou o processo se fez de forma muito lenta e com muitas travas.
No momento de redação deste pré-projeto, são 12 anos de experiência no fomento de redes sociais, sendo que seria possível enumerar centenas de resultados concretos e quantitativos, no entanto, neste momento, ressalto apenas que nessa atuação, sempre percebemos por parte dos participantes um forte sentimento de ter saído do isolamento e de fortalecimento em suas potencialidades.
A partir dessa experiência (ainda em curso), por meio de estudos, debates e leituras, pudemos entender que cada vez que ajudávamos a formar redes sociais, estávamos fortalecendo os vínculos sociais entre pessoas de fora do círculo familiar, portanto, paulatinamente estávamos contribuindo para formar capital social nas comunidades.
Partindo-se dessa constatação, o foco principal deste pré-projeto de pesquisa é determinar o quanto a formação de uma rede de fato contribui para a formação de capital social e o impacto em processos de desenvolvimento local.
Passa por essa investigação analisar os fatores envolvidos na formação de redes sociais com análise privilegiada para a mediação do grupo
JUSTIFICATIVA
Todos os que habitam em nosso país e que estão minimamente preocupados com nossa situação social, sabem que ela não é das melhores e que não é de hoje. Pode-se discordar de suas causas e da forma como atacar suas conseqüências, o que é muito pertinente numa democracia, mas dificilmente pode-se se discordar que as soluções podem ou devem ser implementadas pelo conjunto da sociedade. Ou seja, se nós mesmos não resolvermos nossos problemas, outros não farão por nós.
Apenas como ilustração inicial presente na composição desse cenário, podemos elencar alguns dados e análises.
Segundo do International Monetary Fund (World Economic Outlook Database, April 2009), com dados de Junho de 2008, o Brasil é 10ª maior economia do mundo, considerando-se o PIB - Produto Interno Bruto. Trata-se de uma relevante posição entre 184 países. Seria muito mais relevante se tal índice tivesse coerência com outros normalmente utilizados para aferir a posição dos países em índices correlatos. A incoerência começa a aparecer quando analisamos o ranking do PIB pecapita. O Brasil, neste índice, aparece na 65ª posição. Entre as 10 maiores economias do mundo, incluindo o Brasil e excluindo a china, nenhuma delas tem posição tão desigual nessa comparação. Por exemplo, a Espanha, 9ª. Colocada no PIB está em 21º lugar no PIB Percapita.
Outro índice que ajuda nessa comparação é o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano. Nesse ranking, o Brasil está em 70º lugar, num total de 179 países, conforme dados de 2006 do Human development índex publicado pelo UNPD - United Nations Programm Development. Para exemplificar, ao se comparar o PIB das 10 maiores economias do mundo, com seu respectivo IDH, excluindo-se a China, notamos novamente a posição da Espanha: 9ª colocada no PIB e 16ª colocada no IDH. Ou seja, a economia espanhola é 1,09 vezes maior que a do Brasil e seu IDH é 5,3 vezes melhor que do Brasil.
Considerando-se apenas esses poucos índices, claramente nos deparamos diante da seguinte constatação: somos um país com crescimento e não com desenvolvimento.
Este é um ponto central neste projeto de pesquisa. Entendemos desenvolvimento como um todo e crescimento apenas como fatores de ordem meramente econômica. Em minha opinião, um país só pode ser considerado desenvolvido, quando se constata bons índices em termos de crescimento econômico, desenvolvimento humano (educação, saúde, segurança, etc) e social, com respeito ao meio ambiente. Ou seja, quando isso ocorre, podemos falar em desenvolvimento sustentável. Segundo Franco (2001), a própria palavra desenvolvimento não precisaria vir acompanhada de nenhum outro adjetivo, pois desenvolvimento está sempre ligado a sociedades humanas e geograficamente localizadas.
Apontado o entendimento sobre o que é desenvolvimento, precisamos apontar que fatores levam ao desenvolvimento. Assim, temos os chamados fatores econômicos e extra-economicos. Entre os fatores econômicos, claramente se situam a capacidade de investimento (capital financeiro), de produção e de consumo. Segundo Franco (2002) os fatores extra-econômicos do desenvolvimento, somente recentemente começaram a ser percebidos e estudados como importantes. Em ordem crescente de reconhecimento:
· Capital Natural: são os insumos presentes num território que podem ser utilizados para alavancar o desenvolvimento. Por exemplo: água, ar, recursos minerais, biosferas, matas, etc.
· Capital humano: tudo o que está relacionado ao ser humano em si mesmo, entre eles, fatores como educação, saúde, habitação, segurança, alimentação, etc.
· Capital Social: relacionado ao que acontece entre as pessoas, seu grau de confiança recíproca, capacidade de dirimir conflitos, estabelecer regras e cooperar.
Entre os fatores extra-economicos, citados acima, o capital social é o que nos interessa mais de perto. Consideramos que ele possa ser entendido como fator “ambiental” do desenvolvimento, ou seja, fator que molda o ambiente (humano, social, econômico e principalmente político) onde se dá o desenvolvimento. Segundo Fukuyama (1996) o nível de capital social determina a capacidade de auto-organização de uma sociedade, portanto ele (capital social) é base tanto para a economia quanto para a democracia.
Assim, não basta que tenhamos abundancia de capital natural e altos índices de capital humano, se não existe “estoque” suficiente de capital social que faça com que esses recursos possam ser bem utilizados. Ou seja, aventando uma conotação para capital social, podemos dizer que ele é a vontade política de se fazer algo, e sabemos que sem vontade política por parte dos elementos constituintes de uma sociedade nada acontece. Em outras palavras, para algo acontecer é primeiro que exista a vontade (desejo ou a vontade ou decisão política).
Nessa seqüência, sabemos que capital social não pode ser produzido simplesmente como se constrói fábricas ou como se aloca recursos financeiros para uma empreitada, ou como se constrói hospitais e centros de saúde. O capital social é produzido culturalmente, conforme salientou Fukuyama (1996).
Sergio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil, ao analisar a formação cultural do povo brasileiro e seus impactos na vida social, política e econômica da nação, afirma que “as teorias negadoras do livre-arbítrio foram sempre encaradas com desconfiança e antipatia pelos portugueses e espanhóis” e atribui a essa mentalidade como sendo um fator impeditivo ao “espírito de organização espontânea entre eles”, concluindo que “as doutrinas que apregoam o livre-arbítrio e a responsabilidade pessoal são tudo, menos favorecedoras da associação entre os homens” (Holanda, Sergio Buarque, 1995)
Essa é nossa herança cultura enquanto povo e nação. Assim, encontramo-nos diante do seguinte dilema: Como não temos a herança cultural que nos habilite na atualidade a “estoques” razoáveis de capital social, o que fazer diante desse quadro, uma vez que não é possível mudar o passado e a forma como o país foi colonizado e se formou culturalmente?
Nossa resposta, ainda que superficial, porem suficiente no momento para os fins desse pré-projeto, é criar ambientes onde se possa “treinar” o estabelecimento de vínculos de confiança, parcerias e colaboração social mediante técnicas adequadas de mediação e articulação.
Estamos agora entrado em outro ponto chave desse pré-projeto, ou seja, estamos falando do fomento de redes sociais. O termo, rede social, pelo uso generalizado que tem sofrido, encontra-se desgastado. Não estamos aludindo as redes sociais formadas em ambientes virtuais destinadas a troca de informações entre as pessoas (na maioria dos casos de forma superficial e supérflua). Muito menos estamos usando o termo redes para nos referenciar a um conjunto de elementos hierarquicamente estabelecidos (rede de agencias de um banco, rede de atendimento hospitalar de uma cidade e etc).
Ao falarmos em redes, não estamos também nos referindo um organismo com vontade própria, ou formado pela vontade da maioria das pessoas componentes, como no caso de uma assembléia. Nossa concepção é de rede enquanto conjunto de relações, e esta, por sua vez é fluída e dinâmica.
Não estamos falando de outra coisa senão do que deveria ser a sociedade sem as amarras, filtros, censuras, clusrters e hierarquias que foram criadas e introduzidas na sociedade no seu processo histórico de formação.
Nossa hipótese, é que podemos criar de forma deliberada grupos onde os canais de comunicação possam ser desobstruídos e onde as soluções comuns possam aparecer e onde o diálogo possa imperar, assim, ajudando a estabelecer novos padrões culturais de comportamento e relacionamento entre os membros de uma sociedade. Isso não é outra coisa se não criar ambiente favorável para confiança e sociabilidade onde o capital social possa ser “cultivado”.
No cerne desse movimento, de criar ambientes favoráveis para o diálogo e a cooperação, o papel da mediação de grupos é central. A mediação não entendida como liderança condutora, mas como técnica capaz de liberar possibilidades, entendimentos e superação de conflitos, dentro de uma visão sistêmica, própria para nosso complexo mundo atual.
De uma forma ampla, estabelecer relações causais entre desenvolvimento e capital social, redes sociais e mediação de grupos e entre esse dois conjuntos, é contribuir para melhor entendimento desses fenômenos.
OBJETIVOS
Objetivo Geral
Compreender a relação entre fomento de redes sociais e formação de capital social enquanto estratégia para processos de desenvolvimento local
Objetivos Específicos
Apresentar e discutir conceitos relativos a redes sociais, capital social e desenvolvimento local
Identificar fatores presentes na formação de redes sociais
Identificar elementos presentes na mediação de grupos e sua contribuição para formação de capital social
MÉTODO
A metodologia de pesquisa se divide em duas partes.
Na primeira parte será feito um levantamento e análise de material bibliográfico sobre os temas redes sociais, capital social e desenvolvimento local.
A segunda parte será composta de entrevistas com membros participantes de redes e discussões com grupos, procurando identificar fatores facilitadores ou não na formação de redes sociais, entre eles o papel na mediação dos grupos.
Instrumentos de análises de redes sociais também serão utilizados para medir os vínculos existentes.
BIBLIOGRÁFIA BÁSICA (ABNT)
FRANCO, Augusto. Escola de redes: novas visões sobre a sociedade, o desenvolvimento, a internet, a política e o mundo globalizado. Curitiba: Arca Sociedade do Conhecimento, 2008.
FUKUYAMA, Francis. Confiança: as virtudes sociais e a criação da prosperidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.
HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
INTERNATIONAL MONETARY FUND. World Economic Outlook Database, Washington, 2009. Disponível em: http://www.imf.org/external/. Acesso em 03 de maio de 2009.
JACOBS, Jane. A natureza das economias. São Paulo: Beca Produções Culturais, 2001
_____. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
KAHANE, Adam. Como resolver problemas complexos. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2008.
LOPES, Carlos Alberto. Fortalecimento dos Atores Locais como Estratégia de Ampliação do Capital Social: Formação da Rede Social Itaquera, São Paulo, Brasil. São Paulo, 2004. Disponível em <>. Acesso em 04 de maio de 2009.
LOPES, Carlos Alberto. Desenvolvimento Local: Um processo sustentado no investimento em capital social, São Paulo, 2008. Disponível em <> . Acesso em 04 de maio de 2009.
Putnam, Robert D. Comunidade e Democracia: a experiência da Itália moderna. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1996.
SENGE, Peter; SCHARMER, C Otto; JAWORSKI, Joseph; FLOWERS, Betty Sue. Presença: propósito humano e o campo do futuro. São Paulo: Cultrix, 2007.
TOCQUEVILLE, Alexis. A democracia na América. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1987.
UGARTE, David. O poder das redes. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008.
UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME. Human development índex, New York, 2009. Disponível em: <>. Acesso em 03 de maio de 2009.
Compreender a relação entre fomento de redes sociais e formação de capital social enquanto estratégia para processos de desenvolvimento local
Objetivos Específicos
Apresentar e discutir conceitos relativos a redes sociais, capital social e desenvolvimento local
Identificar fatores presentes na formação de redes sociais
Identificar elementos presentes na mediação de grupos e sua contribuição para formação de capital social
MÉTODO
A metodologia de pesquisa se divide em duas partes.
Na primeira parte será feito um levantamento e análise de material bibliográfico sobre os temas redes sociais, capital social e desenvolvimento local.
A segunda parte será composta de entrevistas com membros participantes de redes e discussões com grupos, procurando identificar fatores facilitadores ou não na formação de redes sociais, entre eles o papel na mediação dos grupos.
Instrumentos de análises de redes sociais também serão utilizados para medir os vínculos existentes.
BIBLIOGRÁFIA BÁSICA (ABNT)
FRANCO, Augusto. Escola de redes: novas visões sobre a sociedade, o desenvolvimento, a internet, a política e o mundo globalizado. Curitiba: Arca Sociedade do Conhecimento, 2008.
FUKUYAMA, Francis. Confiança: as virtudes sociais e a criação da prosperidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.
HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
INTERNATIONAL MONETARY FUND. World Economic Outlook Database, Washington, 2009. Disponível em: http://www.imf.org/external/. Acesso em 03 de maio de 2009.
JACOBS, Jane. A natureza das economias. São Paulo: Beca Produções Culturais, 2001
_____. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
KAHANE, Adam. Como resolver problemas complexos. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2008.
LOPES, Carlos Alberto. Fortalecimento dos Atores Locais como Estratégia de Ampliação do Capital Social: Formação da Rede Social Itaquera, São Paulo, Brasil. São Paulo, 2004. Disponível em <>. Acesso em 04 de maio de 2009.
LOPES, Carlos Alberto. Desenvolvimento Local: Um processo sustentado no investimento em capital social, São Paulo, 2008. Disponível em <> . Acesso em 04 de maio de 2009.
Putnam, Robert D. Comunidade e Democracia: a experiência da Itália moderna. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1996.
SENGE, Peter; SCHARMER, C Otto; JAWORSKI, Joseph; FLOWERS, Betty Sue. Presença: propósito humano e o campo do futuro. São Paulo: Cultrix, 2007.
TOCQUEVILLE, Alexis. A democracia na América. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1987.
UGARTE, David. O poder das redes. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008.
UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME. Human development índex, New York, 2009. Disponível em: <>. Acesso em 03 de maio de 2009.
Nenhum comentário:
Postar um comentário