Um desses livros foi "O Poder da Parceria" de
Riane Eisler, Editora Palas Athena. Foi indicado por Lourdes Alves, a quem
remeto também publicamente meu agradecimento pela feliz lembrança.
Confesso que li este livro "brigando" com ele o
tempo todo e que se fosse me deixar levar por esse incômodo não teria
terminado. Ainda bem que num determinado momento me auto perguntei sobre o
"que de fato estava incomodando". Fazer-me esta pergunta foi um
grande estímulo para descobrir e refletir sobre coisas novas e aprender novos
pontos de vista.
O Poder da Parceria é uma continuidade prática do livro
anterior da autora, O Cálice e a Espada (que ainda não li). Tem muito de
autobiográfico pois revela as razões pessoais que à levaram a mudar
(radicalmente) a forma de viver e ver a vida.
Basicamente a autora classifica "as diferentes
formas de relacionamento" em dois modelos básicos: dominação e parceria. Não se trata de uma novidade, no entanto,
segundo a própria Eisler, ter um vocabulário que defina a percepção dessas
formas de relacionamento, tanto ajuda manter e usar a própria percepção como
fornece uma "explicação para o que está por trás" de suas diferenças.
Segundo essa concepção, no modelo de dominação
"alguém tem que estar por cima e alguém por baixo" e os que estão
"por cima controlam os que estão por baixo". É um aprendizado que vem
desde a infância quando aprendemos a "obedecer ordens sem questionar"
e que se sustentam com base no controle, culpa, medo e força. Uma das
consequências mais amplas disso é conceber o mundo como sendo formado por "grupos de dentro e grupos de fora",
logo, "aqueles que são diferentes são vistos como inimigos a serem
conquistados ou destruídos".
Já no modelo de parceria, esta presente o apoio às
"relações de respeito e cuidado mútuo", que ao prescindir das
hierarquias e controles dispensa o abuso e a violência. No lugar desses
comportamentos e atitudes entra a "nossa capacidade inata de sentir
alegria e brincar, o que nos leva ao crescimento pleno (mental, emocional e
espiritual).
Tendo por base esses dois modelos estruturantes dos
relacionamentos, Eisler os aplica às diversas dimensões do relacionamento nas
quais estamos inseridos e fornece dicas práticas de ações que podemos tomar.
Essas dimensões (ela identifica 7) vão desde as relações conosco mesmos,
passando pelas relações intimas, no trabalho e na comunidade e chegando também
às relações internacionais entre países.
Este livro não pode ser classificado tipicamente como de
auto ajuda, pois vai muito além das dicas de práticas, resumos, guia rápido e
ações a seguir. Fornece explicações com relativa profundidade, relacionando
causas e efeitos sob a ótica da dominação ou parceria.
Além disso, Eisler explora sob esse mesmo viés temas como
o fundamentalismo religioso, democracia, consumo, mídia e outros. Se isso não
fosse suficiente para tirar esse livro de um possível conceito típico de auto
ajuda, a autora faz uma esclarecedora análise das relações de gênero e nos
ajuda a quebrar os entendimentos do que estereotipicamente (como ela gosta de
usar) é entendido como trabalho ou comportamento de mulher e de homem.
Considero particularmente interessante a análise que ela
faz do que chamo de "economia do cuidar" e como esse conceito,
estereotipicamente feminino, mas que pertence às "duas metades da
humanidade", poderia mudar nossa forma de ver e atuar no mundo. Junto com
isso, destaco o papel que tem as relações familiares na formação de modelos
para outros relacionamentos. Se estamos em uma família onde o pai é autoridade
máxima e inquestionável, tendemos a reproduzir esse padrão em outros
comportamentos, ainda mais quando a imposição dessa vontade é feita por medo da
violência ou da culpa.
Finalizando, para quem começou este post dizendo que
brigou com o livro o tempo todo, fico agradecido à autora, à pessoa que me
recomendou a leitura e à mim mesmo (fazendo comigo mesmo uma parceria), por
poder recomendar que esse livro seja lido por todas as mulheres (e por todos os
homens também).
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