terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

O Poder da Parceria

Comecei este ano com boas leituras, e principalmente com leituras que mexem bastante com as razões e as emoções.

Um desses livros foi "O Poder da Parceria" de Riane Eisler, Editora Palas Athena. Foi indicado por Lourdes Alves, a quem remeto também publicamente meu agradecimento pela feliz lembrança.

Confesso que li este livro "brigando" com ele o tempo todo e que se fosse me deixar levar por esse incômodo não teria terminado. Ainda bem que num determinado momento me auto perguntei sobre o "que de fato estava incomodando". Fazer-me esta pergunta foi um grande estímulo para descobrir e refletir sobre coisas novas e aprender novos pontos de vista.

O Poder da Parceria é uma continuidade prática do livro anterior da autora, O Cálice e a Espada (que ainda não li). Tem muito de autobiográfico pois revela as razões pessoais que à levaram a mudar (radicalmente) a forma de viver e ver a vida.

Basicamente a autora classifica "as diferentes formas de relacionamento" em dois modelos básicos: dominação e parceria. Não se trata de uma novidade, no entanto, segundo a própria Eisler, ter um vocabulário que defina a percepção dessas formas de relacionamento, tanto ajuda manter e usar a própria percepção como fornece uma "explicação para o que está por trás" de suas diferenças.

Segundo essa concepção, no modelo de dominação "alguém tem que estar por cima e alguém por baixo" e os que estão "por cima controlam os que estão por baixo". É um aprendizado que vem desde a infância quando aprendemos a "obedecer ordens sem questionar" e que se sustentam com base no controle, culpa, medo e força. Uma das consequências mais amplas disso é conceber o mundo como sendo formado por "grupos de dentro e grupos de fora", logo, "aqueles que são diferentes são vistos como inimigos a serem conquistados ou destruídos".

Já no modelo de parceria, esta presente o apoio às "relações de respeito e cuidado mútuo", que ao prescindir das hierarquias e controles dispensa o abuso e a violência. No lugar desses comportamentos e atitudes entra a "nossa capacidade inata de sentir alegria e brincar, o que nos leva ao crescimento pleno (mental, emocional e espiritual).

Tendo por base esses dois modelos estruturantes dos relacionamentos, Eisler os aplica às diversas dimensões do relacionamento nas quais estamos inseridos e fornece dicas práticas de ações que podemos tomar. Essas dimensões (ela identifica 7) vão desde as relações conosco mesmos, passando pelas relações intimas, no trabalho e na comunidade e chegando também às relações internacionais entre países.

Este livro não pode ser classificado tipicamente como de auto ajuda, pois vai muito além das dicas de práticas, resumos, guia rápido e ações a seguir. Fornece explicações com relativa profundidade, relacionando causas e efeitos sob a ótica da dominação ou parceria.
Além disso, Eisler explora sob esse mesmo viés temas como o fundamentalismo religioso, democracia, consumo, mídia e outros. Se isso não fosse suficiente para tirar esse livro de um possível conceito típico de auto ajuda, a autora faz uma esclarecedora análise das relações de gênero e nos ajuda a quebrar os entendimentos do que estereotipicamente (como ela gosta de usar) é entendido como trabalho ou comportamento de mulher e de homem.

Considero particularmente interessante a análise que ela faz do que chamo de "economia do cuidar" e como esse conceito, estereotipicamente feminino, mas que pertence às "duas metades da humanidade", poderia mudar nossa forma de ver e atuar no mundo. Junto com isso, destaco o papel que tem as relações familiares na formação de modelos para outros relacionamentos. Se estamos em uma família onde o pai é autoridade máxima e inquestionável, tendemos a reproduzir esse padrão em outros comportamentos, ainda mais quando a imposição dessa vontade é feita por medo da violência ou da culpa.


Finalizando, para quem começou este post dizendo que brigou com o livro o tempo todo, fico agradecido à autora, à pessoa que me recomendou a leitura e à mim mesmo (fazendo comigo mesmo uma parceria), por poder recomendar que esse livro seja lido por todas as mulheres (e por todos os homens também).

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