quinta-feira, 6 de maio de 2010

Itinerário de Leituras Sobre Redes Sociais - Revisão em Agosto/2010

Na relação que faço abaixo, listo os principais livros, ligados a esta temática das redes sociais, que li nos últimos anos, e que me ajudaram na compreensão desse fenômeno político.
Faço algumas ressalvas antes de passar a relação:
a) Tentarei fazer uma pequena resenha explicando porque em minha opinião tal livro foi importante.
b) Assim, não tenho a mínima pretensão de abordar todo o livro, mas apenas emitir algumas opiniões.
c) Nesta primeira versão, estou publicando aqui neste blog e tb no Ning da Escola de Redes – http://www.escoladeredes.ning.com/
d) Como sei que farei alterações, com inclusões e retificações, em próximas versões dessa lista, atualizarei neste blog e aviso no Ning da Escla de Redes.
e) Também não vou colocar em qualquer ordem, pois não tenho (neste momento) o mínimo critério para isso (a ordem abaixo foi a ordem da lembrança)

Vamos a lista:

1) Comunidade e Democracia: A experiência da Itália Moderna - Robert D. Putnam – Editora FGV
Neste livro, de forma clara, direta e objetiva encontrei e entendi o que é Capital Social e sua relação com o desenvolvimento. Putnam fez um estudo que durou 25 anos, comparando o índice de civismo no sul e norte da Itália. Nos distritos do norte, onde o esse índice é bem mais elevado, constatou melhor desempenho das instituições e conseqüente melhor desempenho econômico. Tenho usado os conceitos apreendidos neste livro para mostrar em apresentações a importância do Capital Social na promoção do desenvolvimento.
Claramente, incentivar e fomentar a formação de redes é uma estratégia para investimento em capital social e este é básico para o desenvolvimento local.

2) A Democracia na América - Alexis de Tocqueville – Itatiaia Editora
Em 1834 (se não estou enganado), um político e advogado francês, Alexis de Tocqueville, ganha uma bolsa para visitar, conhecer e escrever a respeito da então propalada democracia na América. Visita durante 6 meses os Estados Unidos e relata sua experiência, tendo sempre como referencia a cultura aristocrática ainda reinante na França.
Neste livro pude compreender o poder participação associativa como formador de capital social e de fortalecimento da democracia. Apesar de que Tocqueville não fala em Capital Social (ele fala em governo civil), cita varias situações mostrando como as pessoas se organizavam para resolver seus problemas.
Igualmente gratificante neste livro foi compreender a formação dos Estados Unidos, ou seja, um grupo de colonos que sai da Inglaterra (em parte por discordar dos rumos morais aos quais estavam subordinados) e funda uma colônia no novo mundo. Organizam-se e dividem entre si as atividades de governo em prol do bem comum. Quando o número de colonos vai aumentando, organizam-se em cidades, e estas se juntam em condados, para depois formar os estados (e estes, num dado momentos, formam uma federação para alcançar a independência).
A ligação com a temática das redes é direta: é a qualidade da conexão entre as pessoas que faz a diferença no desenvolvimento (não deve ser por acaso que este país é dos mais desenvolvidos do mundo)

3) O Ponto de Desequilíbrio - Malcolm Gladwel – Editora RoccoExplica como pequenas modificações podem geram mudanças em todo sistema. Importante para compreender os diversos papeis que as pessoas podem desempenhar na disseminação de idéias (chama de eleitos, que são os comunicadores, experts e vendedores) (o que Augusto tem denominado de hubs, inovadores e netweavers, não com essa necessária equivalência).
Alem disso, no processo de disseminação de idéias, apresenta os conceitos de “o fator de fixação” (a própria mensagem) e o “poder do contexto”.
Outro ponto que me chamou a atenção é a apresentação do “Modelo de Difusão de Idéias” de Everest Rogers, onde classifica 05 grupos de pessoas: Inovadores, primeiros adeptos, maioria inicial, maioria posterior e retardatários.
Importante para se estabelecer estratégias para a animação de redes.
Percebo grande relação com as idéias de David De Ugarte apresentadas no livro “O Poder das redes” (listado abaixo).
Ver resenha em: http://carloslopes1.blogspot.com/2007/02/o-ponto-de-desequilbrio.html

4) Democracia Cooperativa – John Dewey – Editora PUC RS
Trata-se da tradução que Augusto de Franco fez de alguns texto de John Dewey (o chamado filósofo da América). Importante para se pensar na democracia não enquanto forma de governo, mas como forma de vida, ou seja, sendo a democracia não um fim em si mesma, mas um meio de se viver e pensar.
Alguns textos, justamente por terem sido escritos num frágil momento para o mundo democrático (inicio da segunda guerra mundial), são muito atuais, quando hoje, muitos ditadores e populistas modernos tentam solapar a democracia em nome de uma pseudo maioria.
Incluo esse livro por entender que o ambiente democrático é básico para a existência das redes e formação de capital social.

5) Cartas Rede Social – Augusto de Franco – www.augustodefranco.locaweb.com.br
Esse conjunto de textos é auto-definido pelo autor como uma comunicação pessoal. Com periodicidade quinzenal, nasceram com nome de Carta DLIS, depois passou a ser chamada de Carta Capital Social e agora é Carta Rede Social, e podemos esperar novo nome para o futuro, bem ao estilo de seu autor, dinâmico e aberto a novas idéias (como devem ser as redes sociais e é o próprio conceito de rede).
E não se trata apenas de uma mudança de nome, mas traz consigo a dinâmica no entendimento de diversos conceitos ligados a área social. Quem se dispuser a ler da Carta 1 (17/12/2001) até a Carta 181 (15/01/2009) vai claramente poder evoluir conceitualmente junto com o pensamento do Augusto de Franco e vai poder refletir em temas tais como: capital social, desenvolvimento local, democracia, rede social, pobreza e política (entre outros). Escritas em linguagem clara e acessível, o autor vai dividindo com seu público suas novas descobertas, pensamentos, reflexões, análises e por vezes sua indignação com alguns fatores.
Particularmente só consegui chegar até o momento até a Carta Capital Social 139 (costumo dizer aos amigos e agora para todos que o Augusto tem capacidade diversas vezes maior de escrever do que eu de ler) e até esse número preparei um índice remissivo que pretendo publicar em breve em meu blog pessoal (http://www.carloslopes1.blogspot.com/).
Essa leitura não pode faltar para quem trabalha com rede social

6) Presença - Propósito Humano e o Campo do Futuro - Peter Senge / C Otto Scharmer / Joseph Jaworski / Betty Sue flowers – Editora Cultrix
Sem duvida, um dos melhores livros que li nos últimos 5 anos. Apresenta reflexões inquietantes sobre sustentabilidade e visão/pensamento sistêmico, colocando o ser humano com agente ativo no processo. Ajuda a questionar nossos modelos mentais consagrados e nesse sentido, ajuda a pensar melhor sobre a atuação em rede, de uma forma horizontal e aberta (em contraste ao nosso modelo mental clássico de pensar em hierarquia).

7) O Poder das Redes - David De Ugarte – Editora PUC RS
O autor aborda a questão das redes distribuídas, principalmente tendo em vista estratégias de comunicação pelo meio virtual e de como animar essas redes. Faz um breve histórico (muito interessante) das mudanças da Rede Social (enquanto sociedade) em relação às mudanças nas tecnologias de comunicação. Apresenta ainda, alguns exemplos concretos de mudanças ocorridas tendo por base as novas formas de conectividade social.
Muito interessante também a análise que faz das motivações (ética hacker) de quem resolve atuar em rede distribuída.
Em resumo, traz questionamentos avançados do quanto as novas formas de comunicação estão permitindo novas formas de interação social e de quanto isso vai modificar a rede social e nossos padrões de comportamento político (principalmente)
Ver resenha em: http://carloslopes1.blogspot.com/2008/09/o-poder-das-redes-david-de-uagarte.html

8) A Natureza das Economias - Jane Jacobs – Editora Beca
O próprio titulo desse livro, já diz muito do seu conteúdo, pois aborda as origens da economia, assim como faz uma comparação com eco sistemas. A sustentabilidade está no centro dos conceitos, pois podemos aprender com essa leitura que uma localidade é sustentável na medida em que seu modelo de produção e aproveitamento dos recursos se aproxima, por comparação, a um eco sistema (uma floresta tropical, por exemplo). A diversidade presente, tanto num eco sistema como numa economia está diretamente ligada a sua capacidade de sustentação.
Ver resenha em: http://carloslopes1.blogspot.com/2007/01/indicao-de-leitura-natureza-das.html

9) Morte e Vida de Grandes Cidades - Jane Jacobs – Editora Martins FontesCom este livro pude compreender de forma muito direta o poder da interação entre as pessoas e sua relação com o desenvolvimento de localidades. Jacobs mostra que o olhar vigilante de uma comunidade influencia o comportamento de seus membros. Esse vigilante não é necessariamente opressivo ou delator (mas também pode ser), mas muito mais no sentido de “cuidado”, ou seja, o que Malcolm Gladwel em O Ponto de Desequilíbrio chamou de Poder do contexto.
Como Jacobs é Urbanista, cita diversos exemplos de como a arquitetura de uma cidade pode influenciar a relação entre as pessoas.

10) Raízes do Brasil – Sérgio Buarque de Holanda – Editora Companhia das Letras
Importante para compreender as origens culturais do Brasil (herdadas em parte dos colonizadores portugueses) e entender parte do nosso deficit de capital social e a prevalência do privado sobre o público.





11) Confiança - As Virtudes sociais e a criação de prosperidade - Francis Fukuyama – Editora Rocco

Discute e apresenta capital social como fator importante do desenvolvimento. Um dos indicadores de capital social é a capacidade de uma sociedade de formar grandes corporações. Analisa a papel das famílias nas sociedades.
Ver resenha em: http://carloslopes1.blogspot.com/2009/04/confianca-as-virtudes-sociais-e-criacao.html



12) Como Resolver Problemas Complexo - Uma forma aberta de falar, escutar e criar novas realidade - Adam Kahane – Editora Senac São Paulo

Partindo de sua experiencia no departamento estratégico da Shell e com base em sua experiência como mediador de espaços de diálogos no processo de abertura na Africa do Sul no início da década de 90, Kahane apresenta neste livro uma reflexão sobre a força do diálogo aberto para construção de novos cenários, principalmente em localidades que tiveram fortes rompimentos no tecido social (que foi o caso da Africa do Sul, Guatelmala, Colombia, etc).
Apresenta também um conceito muito interessante sobre Problemas Complexos, afirmando que estes podem ser classificados em dinâmicos, generativos e sociais.

A conexão que faço entre esse livro e o tema deste post está pautada na seguinte lógica: 1) Criar espaços de diálogo aberto e contrutivo é uma forma de aproximar pessoas e ajudar a recompor o tecido social; 2) Tecido social tem forte conexão com Capital Social; 3) Capital Social é construído com base no relacionamento entre as pessoas e 4) Formentar Redes Social é incentivar o relacionamento entre pessoas com base em principios de horizontalidade e democracia.


13) Fundamentos Teóricos do Capital Social – Silvio Salej Higgins – Editora Argos
Numa fascinante e ousada viagem intelectual, o autor disseca as origens do conceito de capital social, analisando e criticando a sua acepção dominante, além de apresentar suas conclusões a respeito do caminho que devem seguir as pesquisas sobre capital social.
Questiona fortemente o uso que tem sido feito do conceitos e que interesses esse uso tem abrigado.
Ver resenha sobre este livro em: Fundamentos Teóricos do Capital Social - Silvio Salej Higgins


14) Bowling Alone: The Collapse and Revival of American Community
Depois de sua pesquisa sobre as virtudes da "comunidade cívica" que fizeram o Norte da Itália um local muito mais desenvolvido que o Sul (apresentado em Comunidade e Democracia: a experiência da Itália moderna - 1996) voltou seu olhar  para seu país e empreendeu uma gigantesca pesquisa que apontou os motivos do declínio do capital social nos Estados Unidos no último quarto do século 20, dando nome e apontando causas para o que boa parte do americanos já percebia.
Segundo o Prof. Ladislau Dowbor, este é um dos livros fundamentais para se entender os Estados Unidos.
Trata-se de uma narrativa rica em dados e com profundidade de comentários e além disso trazendo elementos e citações para aqueles que quiserem buscar referencias antagônicas em outros autores. Redes sociais e capital social neste livro é tratado como sinônimo.
Ver resenha sobre este livro em: Bowling Alone de Robert Putnam

Publicação original em jan/2009; Revisão 1: mai/2009; revisão 2: out/2009; Revisão 3: mai/2010; Revisão 4: ago/12

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